
Quem imagina encontrar apenas crítica à religião está muito enganado. É uma obra que põe em dúvida não só a sacralização da história bíblica, mas também a sacralização científica. A própria linguagem mais próxima da falada (como se fosse um diálogo) já é uma diferenciação da linguagem sagrada das escrituras. Não se trata, entretanto, de um livro realista e sim de uma tentativa de contar uma história de um ponto de vista humano. Para isso, o foco do livro é um Jesus humanizado.
Todo o primeiro capítulo do livro é uma descrição detalhada de uma gravura medieval que representa a cena da Paixão de Jesus Cristo. De forma abrupta, o leitor é, então, lançado à narração de uma história. A vida de Cristo é contada. O leitor está diante, então, de uma nova versão do mesmo acontecimento com os mesmos personagens. E esses acontecimentos são vistos à luz do presente e preenchido de realidade humana.
A humanização de Jesus Cristo é construída ao longo do texto também pela omissão dos episódios biográficos em que ele foi descrito como ser eleito, capaz de dar vida. Até o desfecho da história marca essa humanidade: a narração termina com a morte de Jesus, ele não a supera como na história tradicional.
Mas tudo é história e o narrador tem consciência que sua narrativa é "uma memória inventiva" e que "tudo é o que dissermos que foi". É a ironia revelada não só no distanciamento em relação ao passado como também no pacto que ele faz com seu leitor ao longo do texto. Então, se você topar o pacto com Saramago, com certeza terá uma ótima e inesquecível leitura.
Esta perspectiva, de humanização de Cristo, distante da representação tradicional do Evangelho e evidenciando o seu caráter frágil e vulnerável, levou a que o livro fosse considerado blasfemo por muitos, entre eles o então Sub-Secretário de Estado adjunto da Cultura, Sousa Lara, que o vetou de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu. Em reação a este ato, que considerou censório, Saramago abandonou Portugal, passando a residir, onde permanece até hoje, na ilha de Lanzarote, Ilhas Canárias.
Fonte: www.sitedeliteratura.cjb.net
Essa música é muuuito antiga... Tenho mania de de fazer trilha sonora para os livros que eu leio, coisa de maluco eheheh...e divido com vocês!