A mulher em mim

Por Simone Cardoso

Estava num daqueles dias corridos e eu não sabia por onde começar. Eu precisava fazer muitas coisas tais como: pegar as crianças na escola, passar no supermercado e ainda por cima preparar o jantar para o Geraldo.
Naquele momento eu me encontrava no quarto, em frente ao imenso guarda-roupa de madeira escura. Ás vezes eu tentava contar quantas portas tinha. Perdia a conta e ia fazer outra coisa. Para sentir-me um pouco mais livre, costumava abrir todas as portas e ficava olhando para o colorido das roupas penduradas nos cabides. A indecisão de qual roupa usar estava me consumindo.
Puxei a gaveta de sapatos pensando: - Como é difícil combinar essas coisas!
Peguei o estojo de maquiagem e um entre tantos pincéis. Passei o pó, senti aquele mesmo cheirinho do rosto de minha mãe. Fiz como havia visto várias vezes. Cheguei bem perto do espelho para ver se tinha espalhado bem, depois passei o batom vermelho. Só não usei o lápis, porque eu não tinha firmeza nas mãos para traçar a linha delicada. Borrifei um perfume com cheirinho de lavanda. Peguei a caixa de madeira, onde ficavam todas as bijuterias, que ficava dentro do guarda-roupa. Peguei um lindo colar de pérolas. Segurava-o em minhas mãos e sentia prazer, em ter aquelas pequenas bolinhas presas em um cordão.
Eu estava vestida com um lindo vestido estampado e calçada uma sandália amarela com um salto de madeira bem alto. Queria colocar uma sandália azul, mas eu havia caído da última vez que eu havia usado, e ainda por cima machuquei meu joelho com a queda. Fui para frente do imenso espelho que havia em um canto do quarto. Olhava-me maravilhada. Quando eu estava saindo do quarto ouvi meu nome:
- Eloah! O que você está fazendo? – Perguntou minha mãe furiosa. Espantada, olhei surpresa para ela. Seu rosto estava duro. Olhava-me com desaprovação.
- Irei pegar meus filhos e depois irei ao supermercado. Retorno para casa logo para fazer o jantar. -Disse eu com naturalidade.
- Você fará tudo isso com as minhas roupas? E com a minha sandália novinha? Que bagunça é essa?– Perguntou com rispidez, mas ao mesmo tempo com um olhar benevolente.
Fiquei sem reação e naquele momento não respondi nada. Estava com medo. Ela chegou perto de mim agachando-se em minha frente. Beijou-me delicadamente na face, pegou-me no colo e disse:
- Você tem apenas cinco anos, minha querida. Um dia, roupas desse tamanho e sapatos desses números talvez possam te servir.
- Eu sei, mas esse vestido é muito lindo! Gostei muito da sua nova sandália. Estou brincando de ter uma família, de me vestir e ser como você.
Sorrindo, minha mãe abraçou-me e naquele abraço, quentinho, senti seu cheiro, seu coração e todo o amor do mundo.

MÃE TE AMO!!!