Por Stella Florence
Quando eu tinha 11 anos caí de paixão pelo Super-homem. O filme, em 1978, foi uma febre: álbuns de figurinhas, pôsteres, sequências, roupas (me lembro de ter um maiô que era a reprodução do uniforme do herói). Eu consumia todas as bugigangas que meus trocados permitiam enquanto sonhava em voar abraçada àquele invencível peito de aço.
Então algo fundamental aconteceu: na minha gula de fã, comprei uma revista na qual havia uma foto do ator Christopher Reeve sorrindo gostosamente, ajoelhado nas areias cariocas, descabelado, vestindo roupas comuns e suando como um homem normal (a ponto de sua camisa ostentar rodas escuras em torno das axilas).
O choque de realidade me causou uma estranha comoção: comecei a me interessar por outros filmes do ator e por outros homens descabelados. O suor de Reeve falou mais alto à minha libido pré-adolescente do que o visual impecável do Super-homem.
O que detonou essa memória foi um presente que ganhei no domingo: o filme "Superman II Donner Cut". Nele, o herói decide se tornar Clark Kent em tempo integral para viver com Lois Lane. Mesmo indo contra as advertências do pai (Marlon Brando), ele abre mão de seus poderes e se torna humano.
E o que faz Lois nessa barafunda? Nada! Ela sequer tenta impedir que seu amado desista de ser ele mesmo. Que burra! Permitir que alguém abdique da sua essência para ficar com você é o mesmo que ganhar um homem sem alma (é melhor ter um pedaço de um homem integral do que ter integralmente um homem aos pedaços).
Ao se tornar humano, o ex-Super-homem não demora nada para se meter em encrencas que uma pessoa comum de carne e osso saberia evitar. O agora indefeso heroi não tem a mais remota ideia de que a grandiosidade da vida não está em voar, parar trens ou fazer o tempo retroceder: a verdadeira coragem é ser Clark.
E nós, meninas que crescemos com herois e príncipes de toda sorte, às vezes perdemos uma vida inteira em busca de um Super-homem quando o interessante, o sexy, o desejável mesmo é Clark Kent, é a cálida e selvagem humanidade de Christopher Reeve ajoelhado na praia com manchas de suor molhando sua camisa. A felicidade real, amiga leitora, a felicidade possível está nesse prosaico e estupendo suor.
*Stella Florence nasceu em 67, tem uma filha, 30 tatuagens e oito livros, entre eles "Hoje Acordei Gorda" e "32 - 32 anos, 32 homens, 32 tatuagens". A mescla de humor e drama, além do verbo ácido, se tornou a marca registrada de sua literatura. Stella é tão alucinada por Gabriel García Márquez que sua cama (sim, sua cama!) tem o mesmo apelido do escritor colombiano: Gabo. Cada louco com sua mania... www.stellaflorence.kit.net
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